Travessia Aracaju–Barra dos Coqueiros: a história que o Rio Sergipe preserva

Barra dos Coqueiros (SE) – A travessia entre Aracaju e Barra dos Coqueiros é, hoje, rotina para milhares de pessoas. Mas por séculos, cruzar o Rio Sergipe exigia habilidade, paciência e embarcações que marcaram a história econômica e cultural da região.
Desde o século XVI, quando a Ilha de Santa Luzia começou a ser colonizada, já existia navegação na foz do Rio Sergipe. Durante anos, houve confusão sobre a geografia local, com a foz equivocadamente atribuída ao Rio Cotinguiba. Pesquisas realizadas pelo Instituto Geográfico de Sergipe confirmaram que a foz é, na verdade, do Rio Sergipe, e que o Cotinguiba é seu afluente.

Tototós: pioneiros da travessia

As primeiras embarcações regulares da região foram os tototós, pequenas canoas que inicialmente navegavam à vela e, anos depois, Albérico Curvelo, que introduziu em 1948 o motor de popa em sua canoa “Ilha Pomonga” o primeiro transporte de passageiros motorizado da travessia Barra dos Coqueiros -Aracaju e vice-versa. A pequena embarcação saia lotada de pessoas do Porto da Boa Vista, situado no”Bairro Baixo” sendo mais tarde  chamado
de Porto Tenente Feitosa em homenagem ao militar sergipano que se destacou na Revolução Constitucionalista de 1932 feita pelo então prefeito de Aracaju Godofredo Diniz. Com o crescimento da nossa cidade o porto foi obrigado a ser transferido para a Praça Santa Luzia, onde se encontra até os dias de hoje. Durante décadas, essas embarcações foram o principal meio de transporte para moradores e comerciantes. Hoje, as canoas, chamadas de tototós, são reconhecidos como patrimônio cultural imaterial da Barra dos Coqueiros, símbolo da identidade ribeirinha local.

A chegada da H. Dantas

Em 7 de setembro de 1963, a empresa H. Dantas, fundada por Heráclito H. Dantas, iniciou oficialmente o transporte fluvial entre Aracaju e Barra dos Coqueiros, com autorização da Capitania dos Portos e das autoridades municipais. Inicialmente, operou balsas para veículos, e pouco depois passou a oferecer lanchas para passageiros, criando dois itinerários: um em Barra dos Coqueiros e outro em Atalaia Nova.
Na época, longas filas se formavam na Avenida Ivo do Prado, enquanto motoristas e pedestres aguardavam para embarcar. A travessia não era apenas transporte: era ponto de encontro e convivência social, registrando o ritmo da cidade nas margens do rio.

Evolução e memória viva

Com o passar dos anos, a travessia se modernizou. Lanchas maiores passaram a atender passageiros, enquanto balsas garantiam o transporte de veículos. Hoje, com a ponte Aracaju–Barra em operação, a travessia fluvial perdeu parte da demanda, mas os tototós continuam ativos, preservando uma tradição histórica e afetiva.
Especialistas e historiadores locais destacam que essas embarcações não são apenas símbolos do passado, mas também patrimônio vivo, representando a relação histórica da população com o Rio Sergipe e a evolução econômica de Barra dos Coqueiros.
Fontes consultadas
  • Instituto Geográfico de Sergipe — estudos sobre a foz do Rio Sergipe e Rio Cotinguiba.
  • AL/SE — Lei nº 7.320/2011, declarando os tototós patrimônio cultural.
  • Portal Infonet — reportagens sobre travessia e navegação local.
  • Facebook — postagem histórica sobre a H. Dantas (link).
  • Relatos orais de moradores e trabalhadores.
  • Arquivos de jornais locais — cobertura de balsas, lanchas e filas na Avenida Ivo do Prado.
  • https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3904272

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